O dilema sobre como conciliar carreira e família nunca foi tão atual. Vencer o desafio de equilibrar duas funções extremamente importantes e igualmente trabalhosas tem custado a saúde mental e emocional, especialmente das mães, no conflito eterno entre priorizar a carreira ou a educação dos filhos.

Será que é preciso escolher? Leia este artigo até o final e tire as suas conclusões.

Uma pesquisa brasileira realizada pelo Serviço de Proteção ao Crédito (SPC Brasil) e pelo portal de educação financeira “Meu Bolso Feliz” mostrou que 69% dos brasileiros atribuem felicidade ao tempo com a família e não ao dinheiro.

Culturalmente, o papel de estar presente com a família recai mais sobre as mulheres do que sobre os homens, causando um conflito e uma cobrança maior para conciliar dois papéis importantes: carreira e filhos.

A mulher possui um movimento contínuo e natural de conciliar, harmonizar, equilibrar e adequar funções diferentes. Ao mesmo tempo, é uma questão de sobrevivência psíquica da mulher respeitar o seu desejo de realização pessoal e a necessidade de trilhar uma carreira.

Afinal, elas se prepararam, estudaram e se aperfeiçoaram em uma profissão.

Infelizmente, o mercado de trabalho não é tão acolhedor com as mães. O ritmo frenético e a carga de trabalho cada vez maiores exigidos pelo mercado corporativo as colocam em xeque-mate: como conciliar carreira e filhos da melhor forma possível?

Ferramenta nenhuma de administração de tempo resolve a culpa

Segundo o Ipea (Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada), as mulheres trabalham cerca de 7,5 horas a mais do que os homens por semana.

Em virtude da dupla jornada, a maioria das mulheres apresenta estresse, desgaste físico, depressão e baixa autoestima. Existe também um fator emocional diretamente associado a esse dilema entre conciliar carreira e filhos: a culpa.

Se a felicidade dos brasileiros está atrelada ao tempo em família e as mães trabalham cada vez mais, significa dizer que elas estão negligenciando seus filhos e tornando-os infelizes?

Essa dúvida, que gera tanta culpa nas mulheres, precisa ser revisitada por toda a sociedade. Seria mais fácil pautar o artigo em ferramentas de administração de tempo, entretanto, sem considerar a desigualdade na tratativa entre mercado de trabalho x filhos dada a homens e mulheres, continuaremos produzindo mães culpadas por escolherem seguir suas carreiras.

Segundo Jacqueline Vilela, autora do livro “Meu Filho Cresceu, e Agora?”, falar sobre conciliar carreira e envolver aspectos bem mais complexos, que dizem muito sobre o quanto as mulheres se sentem capazes e seguras para se livrar da culpa que vem de brinde, com a decisão de manter os dois papéis.

“Quando fui tirar meu visto americano para fazer uma viagem a negócios, minha filha tinha três anos.
O homem que me atendeu me perguntou:
– Você vai viajar por um mês e deixar a sua filha de três anos sozinha?
Eu respondi:
– Ela tem pai.
Ele retrucou:
– É possível, mas eu não entendo.
E ficou balançando negativamente a cabeça, enquanto aprovava o meu visto.”

Provavelmente essa mesma pergunta nunca é feita para um homem que precisa viajar a negócios.

O sentimento de culpa causa mais desperdício e má administração de tempo do que qualquer outra emoção, por isso é tão importante investigar os pensamentos sobre não estar fazendo o suficiente para os filhos e a família, desconsiderar opiniões de terceiros e entender que:

Nenhuma escolha é livre de perdas

É inegável dizer que a vida muda depois do nascimento dos filhos. Novas prioridades, rotinas e papéis.

A verdade é que a vida é feita de escolhas. Conciliar filhos e carreira é apenas uma delas.

A escolha por ter uma carreira, principalmente após os filhos, requer renúncias. Por outro lado, a escolha por se dedicar integralmente aos filhos também requer. O importante é colocar no papel todos os ganhos e perdas da decisão.

No coaching existe uma ferramenta chamada Ganhos e Perdas, cujo objetivo da aplicação é aprender a lidar melhor com os desafios, antecipando e potencializando os ganhos de determinada decisão e minimizando as perdas por meio de ações focadas e conscientes.

Por exemplo, uma mãe que decide dar espaço para a carreira pode ter como ganho a satisfação pessoal e profissional, o retorno financeiro, o reconhecimento e a liberdade.

Em contrapartida, pode ter como perda o tempo com os filhos, não ver o desenvolvimento deles de perto, não acompanhar a rotina, lidar com os afazeres da casa depois da jornada de trabalho, menos tempo para se cuidar, para o cônjuge, entre outros.

A partir dessas constatações, é necessário isolar cada uma das perdas e avaliar: Como lidar com o fato de não estar com os meus filhos o tempo todo? Como obter ajuda para a rotina da casa? Quem pode servir de apoio? O que pode ficar para trás com menos prejuízo?

Cada resposta a essas questões pode trazer aprendizados valiosos sobre como lidar com as perdas inevitáveis de forma mais inteligente.

Não é sobre ter mais tempo, é sobre conciliar carreira e filhos.

Um conceito importante a ser mencionado é o de tempo. Erroneamente, muitas pessoas ainda falam que desejariam ter mais tempo para dar conta das duas rotinas.

No entanto, ter mais tempo significa receber, passar a possuir, ter domínio sobre (o tempo).

Quando se trata de filhos, nem sempre temos o domínio de todo o nosso tempo e, nesse mundo frenético, não necessariamente teremos mais tempo (mais horas).

Por isso, a palavra conciliar norteou este artigo, já que ela é mais adequada por se tratar de:

  • Fazer com que haja acordo; conseguir estar em concordância com outra pessoa.

Quem deseja conciliar carreira e filhos precisa fazer bons acordos com o seu próprio sistema familiar (parceiro(a) e filhos) e com a sua rede de apoio (parentes, escolas, amigos), assim como admitir que precisa de ajuda.

Buscar soluções mais assertivas para problemas com a rotina da casa e dos filhos, estabelecer melhor os papéis, delegar melhor as funções, dar maior autonomia aos filhos, de modo que eles possam colaborar cada vez mais, conforme a idade.

  • Tornar ou tornar-se pacífico; tranquilizar ou tranquilizar-se; conciliar opiniões

O conciliar carreira e filhos passa por esse lugar de aceitar a realidade e fazer dela o que é possível.

É tranquilizar-se com a casa suja em alguns momentos, com o fato de outra pessoa cuidar do seu filho, tornar pacífica a convivência com a culpa, com o que não pôde ser dito ou resolvido, conciliar opiniões com o(a) parceiro(a) e focar no que pode ser mudado, feito e vivido.

Para a mulher que opta por trabalhar em home office, existe o desafio de separar as funções de mãe e empreendedora porque crianças pequenas não conseguem entender que a mãe está presente, mas não está disponível.

Tranquilizar-se com as limitações de idade e as próprias limitações, de acordo com o grau de maturidade dos filhos, é essencial. Intercalar momentos de trabalho com momentos com a criança e lidar bem com as interrupções no trabalho são formas de tornar pacífica a convivência.

E isso não significa estar em um perfeito estado de calma, mas sim consciente dos limites naturais, conciliando-os às demandas da carreira.

  • Desenvolver ou criar uma aliança; aliar ou aliar-se

Conciliar carreira e filhos requer muitas alianças. Com a verdade, em primeiro lugar, sobre o real significado do trabalho na sua vida e sobre a sua forma de exercer a maternidade/paternidade.

A aliança com o pai/a mãe do seu filho, para que juntos possam criar vínculos saudáveis no tempo que cada um possui.

Aliança com quem cuida da criança, seja escola, alguém da família ou da sua rede de apoio.

Precisamos que haja acordo, criar aliança com quem convive conosco, dentro da realidade de cada um.

  • Entrar em harmonia com; colocar ou dispor de modo harmônico

“Eu descobri que sou uma mulher mais feliz quando eu trabalho. Descobri que sou uma mãe melhor também. Ter uma carreira é importante para mim e, a partir dessa decisão, que é só minha, eu sigo o fluxo da vida, me harmonizando com ela e entendendo que o imperfeito é o lugar mais permanente que existe”, comenta Jacqueline Vilela.

Estar em harmonia é parar de brigar com as próprias decisões por causa de imposições da sociedade. É, literalmente, assumir a responsabilidade pela escolha de fazer dupla jornada e todas as implicações que ela acarreta.

Mas e as pessoas que não têm escolha porque precisam trabalhar para colocar o sustento na mesa ou que não contam com a ajuda do pai da criança, por exemplo?

Houve, em vários momentos, escolhas: de ser mãe ou de assumir o risco de ser, de acreditar em um relacionamento, de sair da casa dos pais, de tentar construir a própria vida, de sobreviver. Tudo é escolha.

Harmonize-se com as suas escolhas, ainda que sejam as feitas sob situações adversas.

Empreendimento materno é uma solução?

Muitas mulheres, no intuito de conciliar carreira e filhos, optam por empreender também na busca da ilusão de ter mais tempo para ficar com os filhos. Como já dito, toda escolha acarreta em uma renúncia.

No caso do empreendimento materno, na maior parte dos casos, o que existe não é necessariamente menos horas de trabalho, mas sim maior flexibilidade nos horários para que se possa conciliar as duas jornadas sem a pressão de um chefe ou o risco de perder o emprego.

No entanto, é extremamente desafiador para uma mãe estabelecer limites claros para uma jornada de trabalho empreendedora.

“Quando comecei a empreender trabalhando de casa, a minha ajudante do lar e o meu marido automaticamente começaram a deixar todas as coisas simples do dia a dia por minha conta, como levar minha filha ao banheiro e limpá-la, atender aos chamados dela (vários por dia, pelos motivos mais variados possíveis).

Constatei, na prática, que é muito fácil se perder nas rotinas diárias.

Tive que deixar de lado a culpa por admitir que eu ‘não podia fazer essas pequenas coisas agora’, ter a coragem de chamar os adultos envolvidos, conversar e explicar que precisava que as coisas funcionassem exatamente como eram quando eu trabalhava fora”, relata Jacqueline Vilela.

Também é preciso levar em consideração que um novo negócio costuma levar de 24 a 36 meses para trazer lucro, e que esse lucro é proporcional ao investimento de tempo nesse empreendimento.

Quanto mais a mãe tiver dificuldades de dizer não, buscar suporte e conciliar os papéis trabalhando em casa, mais tempo levará para (finalmente) conseguir realmente usufruir dos benefícios de empreender.

É possível observar os economizadores de tempo

Se o nosso tempo é finito, como podemos aproveitá-lo melhor? Estando atentos para o que nos economiza tempo.

Geralmente os economizadores de tempo estão no dia a dia, na rotina que não observamos.

Alguns economizadores que podem ajudar:

Não faça tudo pelo seu filho(a): Muitos pais decidem tudo, desde a roupa até a comida. No tempo em que estão em casa com os filhos, ocupam-se de pequenas coisas, como colocar a comida no prato, vestir o filho, dar banho, estudar junto.

O fato é que, na maioria das vezes, o filho poderia fazer metade dessas tarefas sozinho. Dentro do Coaching Parental, chamamos esse tipo de pais de superfuncionais.

São pais que acreditam que fazer tudo pelos filhos diminui a culpa pela ausência. Geralmente se incomodam com a velocidade com que as coisas são feitas, acreditam que, se não fizerem, ninguém mais fará, ou que nunca se questionaram se o filho está preparado para determinada tarefa.

Reveja sua postura e passe a atribuir responsabilidades ao seu filho, de acordo com a idade. Isso traz independência (uma necessidade básica humana) e se torna um economizador de tempo potente.

Tenha um planejamento para a sua carreira: Tenha em mente onde você quer chegar, por quais motivos e em quanto tempo.

Um planejamento de carreira bem feito é um enorme economizador de tempo e energia, porque direciona os seus esforços e relembra você dos motivos da sua escolha.

Foque nas prioridades diárias: Se você empreende, mantenha um planejamento completo, mas foque na prioridade diária. O que é preciso fazer naquele dia?

Se você trabalha fora, concentre-se em manter-se presente no ambiente onde está. Quando estiver na empresa, foque nela. Ao voltar para casa, esteja presente com o seu filho.

Não se distraia com o que não é importante: Reveja as suas práticas com as redes sociais. Saia de grupos com os quais não consegue interagir, perceba o que mais tira o seu foco e elimine.

O que você faz com o tempo que já tem com seu filho?

Foque nas interações verdadeiras de tempo e não na quantidade de horas. Muitos pais conseguem criar vínculos fortes com os filhos, mesmo com pouco tempo disponível.

Conciliar significa reservar tempo para estar com os filhos de corpo e alma e criar oportunidades para a apreciação e a demonstração de carinho e afeto.

Rotina matinal: Dá beijo? Deixa bilhete?

Durante o dia: Liga? Manda recadinho? Comenta algo que viu e lembrou da pessoa?

Ao chegar em casa: Beija? Abraça?

No tempo com o filho: Está presente? Desconecta do celular? Brinca?

E, por último:

Tudo o que você faz sinaliza uma mensagem para o seu filho.

Uma mulher feliz com a sua carreira mostra aos filhos que é possível correr atrás dos sonhos. Uma mãe feliz é tudo de que o filho precisa para também estar bem emocionalmente.

Ver o tempo nas horas do seu relógio faz você cair na armadilha de querer ter mais tempo, mas não qualidade de tempo.

A melhor maneira de lidar com tempo e carreira é se conectando com os seus filhos naquele espaço de tempo em que só existe você e eles. E perseguir os seus sonhos, um dia de cada vez, tomando pequenas decisões e cuidando do seu entorno.

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