Enquanto pais, como manter a calma e tranquilizar os filhos durante o período em que as pessoas precisam praticar distanciamento social por conta do Covid-19?

Essa é uma pergunta que muitas famílias se fazem diariamente, depois que a rotina virou de ponta cabeça por causa da pandemia gerada pelo vírus COVID-19. De uma hora para outra, os filhos estão trancados em casa, cheios de energia, sem poder ver os amiguinhos e com um monte de perguntas a fazer aos pais.

Em conversa durante um debate, a atriz Maria Ribeiro revelou não saber lidar com as perguntas do filho sobre Covid-19, e que tenta evitar criar pânico a ele. Ela diz se sentir mal com a postura adotada, mas simplesmente não sabe como reagir.

Alguns pais, no intuito de proteger os seus filhos de situações frustrantes, ameaçadoras e impactantes, acabam por criar uma atmosfera fantasiosa dentro de casa, o que custa a eles muito esforço e energia.

Em seu livro The Survivor’s Club, o autor Ben Sherwood diz que, quando confrontados com um desafio, as pessoas inconscientemente examinam suas memórias para lembrar o que fizeram na última vez que encontraram algo semelhante, na tentativa de usar estratégias previamente bem-sucedidas para lidar com a situação em questão.

Isolamento Social COVID-19
Imagem de congerdesign por Pixabay

Vamos usar esse conceito para observar como as pessoas estão se ajustando – ou não – às enormes mudanças na vida cotidiana provocadas pela crise relacionada a Covid-19.

Nenhum de nós poderia prever o fechamento repentino das escolas de nossos filhos, a perda abrupta de renda ou a necessidade de usar máscaras nos rostos para irmos às ruas. Nunca vivenciamos algo assim, então, quando nosso cérebro procura: “O que eu fiz na última vez em que tive que ensinar meus filhos sobre aulas EAD/ficar trancado em casa/ lidar com o desemprego/usar máscaras que me sufocam?”, o nosso cérebro paralisa.

Sem lembranças de como funcionamos em uma crise como essa antes (simplesmente porque é a primeira vez que passamos por algo tão intenso), nos resta ajustar, acomodar, inventar e adaptar, tudo isso no espaço de alguns dias.

Mantendo a calma durante a pandemia de COVID-19

Felizmente, nós, humanos, somos excepcionalmente resistentes.

Temos uma capacidade notável de nos ajustar, acomodar, inventar e adaptar, mesmo com pouco aviso ou preparação, quando somos ágeis e dispostos a aceitar a realidade à nossa frente.

Aqui estão algumas sugestões que os pais podem fazer para encontrar mais calma e estabilidade durante a crise de COVID-19.

Acolha birras e choros

Não há como fugir disso; é provável que as crianças tenham crises e fiquem frustradas. Eles sentem falta de ir à escola, estão desesperadas para brincar livremente do lado de fora e podem ter ficado cansadas ​​de passar o dia todo com o irmãozinho ou a irmã mais velha. 

Nenhuma criança se comporta mal porque quer. O mal comportamento é fruto de emoções que a criança ainda não consegue entender e nem controlar e de necessidades não atendidas que não consegue expressar. Cabe então aos pais assumir o papel de ajudar a criança a traduzir essas emoções e necessidades e ajudá-la a expressá-las de forma melhor.

As birras são maneiras naturais e saudáveis ​​para as crianças liberarem emoções reprimidas. Permitir que nossos filhos desmoronem e chorem é uma das melhores maneiras de ajudá-los a lidar com as inúmeras mudanças e perdas que estão enfrentando no momento. 

A propósito, é perfeitamente bom que você tenha seu próprio colapso ou choro; apenas garanta que seus filhos não estejam por perto. 

Pais e Covid-19
Imagem de Ursula Schneider por Pixabay

Fique Presente

Eckhart Tolle fala lindamente sobre a importância de observar nossos pensamentos catastróficos. Muitas vezes, os pensamentos que temos sobre uma situação desafiadora geram ansiedade, preocupação e desesperança, porque imaginamos, em grandes detalhes, dias progressivamente terríveis pela frente. 

Tire alguns momentos para praticar se concentrar no momento presente, talvez observando (pela janela ou no quintal) um pássaro pousando em uma árvore ou apreciando a voz do nosso filho cantarolando enquanto ele brinca, o quentinho da água batendo durante o banho, o cheiro do café ou do chá. 

Essas pequenas atitudes tiram o excesso de medo das atividades cotidianas que precisam ser feitas para atender às necessidades práticas de nossa família. 

Deixe de lado o que não é

A parentalidade consciente sempre começa com uma intenção. Essa intenção clara estabelece quem queremos ser na relação com os nossos filhos para que eles possam florescer na sua autenticidade e para que os libertemos para não precisarem da nossa aprovação nem corresponder às nossas expectativas.

Deixe de lado o que pensa que a sua vida seria agora se a pandemia e o isolamento social não existissem. Isso tudo é real. Por isso, você pode se permitir sentir tristeza e lamentar o que perdeu – seja algo concreto, como uma reunião de família ou a queda do salário, ou ainda uma experiência emocional, como não poder ver os pais idosos ou celebrar aniversários dos nossos entes queridos. Precisamos sentir nossa tristeza para liberá-la. 

Seja gentil consigo quando estiver passando por um momento difícil. Abandone as expectativas de fazer as coisas perfeitas agora. Deixe-se chorar. Você pode achar útil pedir acolhimento gratuito – um grupo de suporte virtual para pais do Brasil. 

Imagem de Gabriele Lässer por Pixabay 

Fale sobre o que está sentindo

Dar voz a emoções difíceis pode impedir que elas fiquem presas dentro de nós, onde podem se manifestar como ansiedade, depressão ou raiva. Se você tem um companheiro(a) ou um amigo de confiança com quem conversar depois de um dia difícil, se permita ter alguns minutos para desabafar, oferecendo-se para fazer o mesmo por ele ou ela quando necessário. 

Escreva em um caderninho sobre o que anda sentindo. Ou fale sobre os seus sentimentos, mesmo que o único que esteja ouvindo seja o cachorro da família.

Mas se isso não for possível, fale sobre suas frustrações com seu cachorro, seu peixe dourado ou uma planta da casa! Simplesmente expressar nossos sentimentos em voz alta pode ajudar a aliviar nosso espírito. Dê a si mesmo o dom de falar sua verdade, seja ela qual for. Apenas não use seus filhos como sua caixa de ressonância, pois eles não devem ser nossos confidentes.

Seja paciente consigo mesmo sobre tudo

Você pode entender racionalmente que o isolamento social é uma situação atípica, que seu filho ficará mais irritado e que isso não é sinal de que você está “falhando” na criação deles.  Você pode até entender que é bom falar sobre o que sente para liberar as emoções.

Mas nem sempre o nosso lado racional vai vencer. O luto tem tempo próprio.

Diminua o volume da voz que diz que você precisa ser forte ou que precisa se acalmar porque vai passar e dê espaço aos sentimentos dolorosos que podem surgir à medida que você avança no seu dia. 

Se começar a se sentir triste durante o dia, peça licença por alguns minutos (talvez visitando o banheiro ou o carro) para chorar ou peça ao seu parceiro(a) um abraço amoroso, enquanto a tristeza passa por você para ser sentida e liberada.

Conversando com os filhos sobre COVID-19 e o isolamento social

O controle e o ambiente conhecido são o que nos deixam seguros na vida. Ficamos um pouco vacilantes quando a vida nos apresenta desafios que não nos sentimos preparados para enfrentar.

As crianças não são exceção. Embora tenham sido construídas para ser adaptáveis, eles podem facilmente se preocupar quando confrontados com algo desconhecido, especialmente se sentirem a própria ansiedade dos pais durante esse período de isolamento social.

Pode ser difícil manter uma atmosfera de calma quando, como pais, ainda estamos descobrindo o melhor caminho de lidar com as circunstâncias que o COVID-19 trouxe. Mas nossos filhos nos observam com muito cuidado, pegando suas pistas de nós enquanto resolvem como devem se sentir em relação a eventos preocupantes.

Quando somos capazes de mostrar aos nossos filhos como é manter a estabilidade diante de circunstâncias inesperadas, ajudamos a desenvolver um senso de resiliência que lhes servirá durante toda a vida.

Filhos e COVID-19
Imagem de Med Ahabchane por Pixabay

Aqui estão algumas sugestões para abordar o coronavírus (COVID-19) com seus filhos:

Assegure-se de que seus filhos falem com você sobre seus medos

Crie uma atmosfera em que todos os sentimentos sejam bem-vindos. Evite interromper, descartar ou diminuir suas preocupações. Desligue a TV, desligue o telefone e ouça.

É muito importante deixar as crianças assumirem as responsabilidades que conseguem assumir, porque assim entenderão mais facilmente o conceito de colaboração. 

 Agradeça a eles por terem vindo com suas preocupações

Quanto mais mostramos a nossos filhos que somos capazes de ouvir suas preocupações e problemas, maior é a probabilidade de eles se voltarem para nós – em vez de seus colegas ou a Internet – quando estão com dificuldades.

Não sobrecarregue seus filhos com informações

Responda às perguntas de maneira apropriada à idade e faça uma pausa para ver se eles entendem e querem fazer alguma pergunta.

Aqui está um exemplo de conversa que você pode ter com uma criança mais nova.

Criança: “O que é o coronavírus (COVID-19)?”

Pai: “É um tipo de gripe que se espalha facilmente. As pessoas estão tomando muito cuidado ao lavar as mãos e ficar longe de pessoas que possam estar doentes ou de pessoas que podem pegar a doença com facilidade. Por isso tivemos que nos afastar da vovó e do vovô.”

Criança: “Eu vou pegar essa doença?”

Pai: “Esta gripe não parece estar deixando as crianças doentes. Mas ainda devemos ter cuidado extra para não espalhá-lo para outras pessoas.”

Criança: “Você vai pegar?”

Pai: “Ninguém sabe ao certo quem pegará esse vírus chamado Covid-19, mas eu sou forte e saudável e, se o fizesse, provavelmente ficaria doente por alguns dias, mas depois ficaria melhor.” (É claro que você precisará modificar isso conforme necessário para refletir sua situação de saúde.)

Criança: “E a vovó? Ouvi que pessoas idosas adoecem e morrem. Vovó vai morrer?”

Pai: “As pessoas mais velhas podem pegar mais facilmente, por isso estamos cuidando para que a vovó seja mais cuidadosa e fique em casa por um tempo, para que ela não seja exposta a pessoas que possam estar doentes.”

Obviamente, essa conversa terá que ser personalizada de acordo com as circunstâncias da sua família, mas, como você pode ver, as respostas são breves, tranquilizadoras e honestas.

Ensine boa higiene

Ensine as crianças a lavar as mãos de forma mais divertida. Incentive-as a tossir em um lenço de papel e depositá-lo diretamente no lixo ou tossir no cotovelo. E ajude o seu filho a começar a quebrar o hábito de tocar em seus rostos, algo que a maioria de nós faz inconscientemente 23 vezes por hora!

Manter rotinas

É reconfortante para os filhos quando a vida permanece com certa previsibilidade em meio à incerteza. Então sim – eles ainda precisam ir para a cama no mesmo horário, escovar os dentes e fazer a lição de casa. Muitos pais, de forma equivocada, afrouxam a rotina por pensarem “já estamos passando por um período de estresse demais”. No entanto, tirar a rotina só causará ainda mais incerteza para os filhos.

Mantenha a TV desligada

Lembre-se de que a televisão precisa de espectadores, e as manchetes sensacionalistas garantem que as pessoas continuem assistindo. Procure maneiras de se manter atualizado sem expor seus filhos ao ataque de informações alarmantes sendo compartilhadas.

Encontrando apoio nessa época de isolamento social

Encontre alguém com quem você possa conversar se estiver preocupado.

Essa pode ser a dica mais importante. É normal que surjam grandes sentimentos quando ouvimos palavras como pandemia, mortes, recessão da economia. Entre em contato com um amigo de confiança para conversar se você estiver se sentindo angustiado. Permita-se expressar seus medos em um ambiente seguro e amoroso – sem seus filhos por perto.

Se não for possível encontrar ajuda no seu círculo de amigos, convido você a pedir um Acolhimento Online. Nossos profissionais (psicólogos e coaches parentais) estão dispostos a ouvi-la(o) por 40 minutos, de forma gratuita e sem julgamentos. Clique aqui e agende seu horário.

Você pode também acessar a nossa plataforma gratuita do Quarentena em Família. Nela, você encontrará PDFs, vídeos e áudios para ajudá-la(o) a lidar com diversos desafios que o isolamento social trouxe para a sua vida. Clique aqui para acessar de forma completamente gratuita.

Os seres humanos são notavelmente resilientes. Quando damos voz às nossas preocupações e obtemos apoio quando precisamos, tendemos a enfrentar situações difíceis ainda mais fortes do que éramos. 

Coloque a máscara primeiro em você, busque ajuda confiável e torne-se aquele capitão calmo e confiante do navio, para que os seus filhos sintam-se seguros para descarregar suas preocupações e desenvolver as habilidades para enfrentar os desafios que a vida possa apresentar.

Nós vamos superar isso, um dia de cada vez.

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