O artigo de hoje vem em um formato diferente, não está dividido em tópicos nem em subtítulos. O artigo de hoje é um relato e um convite para uma reflexão muito necessária.

 

Quando eu comecei a falar sobre detox digital, ainda muito antes de lançar o livro, eu fiz muitas pesquisas, e a resposta de muitos pais era de que estava tudo sob controle, que eles sabiam exatamente como fazer para que os filhos não usassem as tecnologias em excesso, que controlavam o que os filhos assistiam…

Em 2019 eu publiquei o livro Detox Digital, mas desde 2018 eu venho introduzindo essa necessidade de cuidar com o excesso de tecnologia na vida dos adolescentes. 

E é desde então que eu venho alertando os pais sobre a importância do cuidado com esse mundo da internet. Porque sabemos, a internet é literalmente um mundo à parte. E a partir do momento em que as crianças e adolescentes tem um celular na mão, tem redes sociais, nós estamos disponibilizando a eles, o acesso a esse mundo.

Recentemente, em uma aula que dei na Pós graduação, usamos a Deep Web como exemplo, que é um grande submundo da internet, e algumas educadoras parentais aproveitaram o intervalo para perguntar aos seus filhos se eles sabiam o que era a deep web, e elas ficaram chocadas em saber que eles conheciam. 

O Discord é apenas mais uma variação de tudo o que já existe, é só mais uma plataforma que permite a disseminação desse tipo de conteúdo. 

Um bom exemplo disso é a função de “melhores amigos” no Instagram. O que os adolescentes postam no público pode ser totalmente diferente daquilo que publicam em um grupo privado. E essa, pode ser mais uma das formas que eles utilizam para “despistar” os pais do que realmente acontece. 

Precisamos sair desse lugar de que estamos sabendo controlar as redes, até porque os próprios desenvolvedores das redes reconhecem os perigos que elas podem trazer.

Recentemente o CEO do TikTok disse em uma entrevista que os filhos dele não usam o aplicativo, justamente porque essa rede não é para crianças, que a classificação indicativa deve ser respeitada. 

Nesse último domingo, o Fantástico fez uma reportagem bastante impactante sobre os perigos do uso das redes sociais por crianças e adolescentes. 

Os conteúdos compartilhados por esse público na internet é chocante, e ilegal. 

A reportagem vem para comprovar o que já viemos discutindo a muitos anos: que a internet é repleta de perigos, especialmente para crianças e adolescentes que estão passando por esse processo de transformação, de descoberta, com mudanças físicas e comportamentais acontecendo a todo momento.

A grande pergunta que fica é: o que acontece dentro do quarto dos adolescentes?

Esse é um ambiente que deveria ser seguro,  um ambiente de descanso, estudo, e também de liberdade. Mas, até que ponto essa liberdade tem deixado o adolescente seguro?

Quando sai uma reportagem como essa do Fantástico, é comum que muitos pais fiquem chocados, se perguntando o que fazer, como blindar os seus filhos de tudo isso. Mas a verdade é que a solução já está dentro das casas.

Esse é um assunto muito complexo, e na verdade, o uso consciente das redes vem muito desse lugar de ensinar os adolescentes a fazerem boas escolhas, manter um diálogo, aumentar a autoestima do adolescente, para que ele não se submeta a ordens, nem queira participar desses desafios para se sentir aceito em algum grupo.

Muitos pais acabam indo para um lugar de muitos questionamentos 

“Será que eu mostro essa reportagem?” 

“Será que eu converso sobre isso?” 

“Será que não vou chamar a atenção e despertar a curiosidade pra ele descobrir o que é esse discord ou outro aplicativo?”

“Será que ele não vai ficar curioso e procurar esses grupos?” 

Esse medo dos pais de abordar esse tema com os filhos, provém da falta de diálogo diário, de confiança, de espaço..

Como tem sido essa construção dentro da sua família, dentro da sua casa?

É através dessa construção, desse diálogo diário que poderemos evitar que situações como estas continuem acontecendo. Que grupos de desafios continuem se propagando e gerando cada vez mais insegurança, e situações trágicas como os massacres que tem acontecido nas escolas.

É nosso dever, como pais, e também como profissionais de educação parental, estimular o diálogo, ter sempre esse espaço dentro das famílias, de forma constante, acontecendo naturalmente todos os dias. 

É dessa forma que poderemos prevenir e tornar a infância e adolescência um período mais seguro. 

É assim que poderemos garantir que nossas crianças e adolescentes tenham consciência de que esse tipo de grupo e conteúdo não traz pertencimento, e nenhum outro benefício. 

O lugar de pertencimento dessas crianças e adolescentes deve ser a sua própria família, e parte de nós adultos, fazer com que eles sintam isso.