O termo hikikomori foi cunhado por Tamaki Saito em 1998. Na obra Isolamento social: uma adolescência sem fim , o psicólogo japonês descreveu a condição como um estado de reclusão social e física. Desse modo, a palavra serve para designar tanto a síndrome, quanto as pessoas acometidas. Veja mais sobre isso ao longo do artigo!

O conceito de hikikomori

É possível afirmar que situações de isolamento somente podem ser consideradas como hikikomori quando um determinado jovem passa mais do que seis meses isolado. Além disso, ele precisa apresentar alguma forma de sofrimento psicológico.

Normas sociais rígidas

De início, a síndrome foi considerada um fenômeno cultural. De acordo com Takahiro Kato, psiquiatra e professor da Universidade de Kyushu, isso aconteceu devido às normais sociais rígidas do Japão. Os jovens eram submetidos a expectativas altas por parte dos seus pais e em outras esferas, como a vida acadêmica.

Logo, a “cultura da vergonha”, como Kato chamou essas cobranças desmedidas, fez com que os adolescentes se sentissem inadequados e, portanto, manifestassem o desejo de se esconder do mundo, gerando a situação de isolamento.

Embora o termo e a síndrome tenham surgido no Japão, atualmente é possível encontrar casos em outros locais do mundo. Desse modo, é importante compreender os perigos que o isolamento social pode trazer para adolescentes e as formas de lidar com essa questão. Lembrando que esse não é o isolamento social a que fomos impostos para controlar a disseminação de doenças no último ano. É o caso do próprio adolescente causar seu isolamento social em excesso.

Os perigos do isolamento social para adolescentes

A adolescência é uma fase marcada por transformações. Compreendida entre os 12 e os 18 anos, ela é caracterizada por um momento no qual os jovens começam a questionar as figuras de autoridade nas suas vidas. Isso contribui para que eles construam a própria imagem.

Entretanto, a desconstrução de figuras antes vistas como heroicas gera um vácuo em termos de referencial. Desse modo, para Daniela Viola, doutora em psicologia pela Universidade Federal de Minas Gerais, quando a autoridade familiar se faz ausente da vida dos adolescentes, outra instituição precisa ocupar este posto.

Nesse sentido, para Viola, a escola assume o papel em questão. Neste ambiente, os jovens têm os seus primeiros contatos sociais e também podem viver as suas primeiras experiências em termos de isolamento.

Isso acontece quando os jovens não conseguem se inserir em algum grupo. Este cenário é potencializado devido aos dois tipos de imagem do adolescente nessa fase da sua vida. Segundo a psicanalista Françoise Dolto, os jovens possuem uma visão real e uma simbólica a respeito de si mesmos.

Assim, a visão real diz respeito aos seus corpos e a simbólica fala sobre os seus desejos e emoções. Durante os anos da adolescência, ambas estão abaladas e os sentimentos se tornam contraditórios. Portanto, o isolamento pode piorar essas questões, deteriorando a saúde mental.

A saúde mental dos jovens em tempos de pandemia

Segundo Daniela Viola, a saúde mental dos jovens já passava por um declínio e isso foi agravado pela pandemia. Assim, a ideia de ciclos inacabados e a dificuldade para traçar planos para o futuro, assim como o isolamento físico, contribuíram para que os jovens não conseguissem estabelecer laços.

Então, em muitos casos, os adolescentes acabaram recorrendo à tecnologia. Porém, de acordo com o relato de Marcela Passerine Carroni, entrevistada pelo site do médico Dráuzio Varella, a adaptação para o sistema remoto de ensino foi complexa e fez com que ela perdesse o ritmo de estudos devido à possibilidade de se acomodar.

Além disso, segundo Marcela, a interação com os colegas tornava as experiências acadêmicas mais prazerosas. Mas com o isolamento decorrente da pandemia, até mesmo os seus laços de amizade foram prejudicados, visto que não existia mais a obrigatoriedade de estar junto.

Relutância em conversas diretas

Assim, este cenário gerou uma situação na qual os jovens começaram a radicalizar. Se antes eles passavam um tempo considerável no celular e em outros dispositivos eletrônicos, o seu isolamento se tornou ainda maior. Logo, Daniela Viola relata que existe certa relutância em manter conversas diretas.

A consequência deste cenário é a tristeza e o desânimo. Desse modo, as taxas de ansiedade e depressão em adolescentes estão passando por um aumento. Segundo um estudo realizado pela Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo, atualmente 36% dos jovens brasileiros apresentam sintomas destes transtornos.

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