Disciplina positiva – Tudo o que você precisa saber
O que é disciplina positiva e de onde surgiu.
A disciplina positiva é uma abordagem que une filosofia de vida e ferramentas práticas para melhorar relacionamentos entre pais e filhos, professores e alunos, entre casais e colegas de trabalho.
A filosofia origina-se de teorias psicológicas humanistas de Alfred Adler e Rudolf Dreikurs.
Alfred Adler foi um grande psicólogo austríaco, fundador da psicologia do desenvolvimento individual. Interessou-se, especialmente, pelas condições sociais que influenciam a criança e a sua relação com o mundo. Seus estudos foram importantíssimos para entender as crianças com inferioridades, as crianças mimadas, as crianças rejeitadas, entre outras.
Adler levantou sua voz contra os males da superproteção. Para ele, esse é o maior castigo que se pode impor a uma criança.
Por exemplo, crianças com enfermidades físicas e mentais sofrem muito e têm tendência a se sentir fracassadas e incapazes face às solicitações da vida. Se, porém, tiverem pais compreensivos e encorajadores, podem compensar suas inferioridades e transformar sua fraqueza em força.
As crianças superprotegidas não conseguem desenvolver sentimentos sociais, tornam-se déspotas, à espera de que a sociedade se conforme com seus desejos egoístas. Adler considerava isso danoso à sociedade.
A rejeição também produz consequências desastrosas nas crianças. Maltratadas na infância, tornam-se adultas inimigas da sociedade. Seu estilo de vida é dominado pela necessidade de vingança.
Essas condições – enfermidade orgânica, superproteção e rejeição – produzem concepções errôneas sobre o mundo, resultando num estilo patológico de vida.
Rudolf Dreikurs foi um psiquiatra e educador que desenvolveu e aprimorou o sistema de psicologia individual do psicólogo austríaco Alfred Adler de forma a tornar-se um método pragmático para o entendimento das causas do comportamento repreensível em crianças e para estimular um comportamento de cooperação sem punição ou recompensa.
Os conceitos de Adler e Rudolf originaram a psicologia adleriana, base da psicologia positiva, com conceitos básicos que ajudam a nossa compreensão do universo infantil:
1) Crianças são seres sociais:
O comportamento de uma criança é determinado dentro de um contexto social. Ela toma decisões sobre si mesma ou sobre como se comporta com base em como vê a si mesma e em como acredita que os outros a vejam.
2) O comportamento é baseado em um objetivo:
O principal objetivo de uma criança é se sentir aceita e importante. No entanto, o seu cérebro não está desenvolvido o suficiente para que ela expresse esse objetivo de forma sempre adequada. Dreikus dizia: “As crianças são boas observadoras, mas péssimas intérpretes”.
Significa dizer que a criança observará seus pais ou cuidadores e tirará conclusões sobre as suas ações, que podem ser totalmente erradas e ocasionar comportamentos de aborrecimento e raiva.
3) Uma criança malcomportada é uma criança desencorajada:
Uma criança que se comporta mal está tentando dizer aos cuidadores: “Eu sinto que não sou aceita ou não sou importante para essa família ou para esse meio em que estou inserida e eu não sei bem como lidar com isso, então me comporto mal”.
A melhor pergunta que um adulto pode se fazer quando presenciar um mau comportamento de uma criança é: “O que ela realmente está tentando me dizer?”. Se o adulto entender que o comportamento vem de uma emoção e de um sentimento de não aceitação, conseguirá ajudar a criança na sua inabilidade e confusão a entender e reagir de uma forma diferente nas próximas vezes.
4) Responsabilidade social ou sentimento de comunidade:
É extremamente importante ensinar responsabilidade social às crianças, e o primeiro passo é ensinar a autoconfiança para que as elas se sintam prontas para ajudar os outros.
Quando pais e cuidadores assumem o papel superprotetor, as crianças aprendem a esperar que o mundo as sirva, e não que elas sirvam o mundo. Essas se tornam crianças que tendem a querer as coisas sempre do jeito delas, frustrando-se quando as coisas não acontecem do seu jeito e com tendência a sentir pena de si mesmas, buscar vingança e machucar a si mesmas ou aos outros.
No outro extremo, pais e cuidadores que estão sempre ocupados para lidar com crianças ou que assumem comportamentos autoritários quando elas não “se comportam” destroem o sentimento de pertença e de comunidade e, consequentemente, a autoconfiança dessas crianças.
5) Igualdade:
Falar em igualdade entre adultos e crianças é andar em um terreno minado porque muitos adultos ainda tratam as crianças de forma desigual. Entendo que elas não possuem a mesma experiência e responsabilidade e por isso precisam receber correções. Na verdade, igualdade é quando todas as pessoas têm direitos iguais a dignidade e respeito, e por esse motivo a disciplina positiva não inclui técnicas humilhação, por serem contrárias aos conceitos de igualdade e respeito mútuo.
6) Erros são maravilhosas oportunidades para aprender:
Quando os adultos dão para as crianças mensagens negativas sobre os erros, elas vão construir suas vidas baseadas no medo.
Quando existe uma abordagem de perceber que o erro pode se tornar aprendizado e quando o adulto ensina e encoraja a criança, ela aprende a aceitar a própria imperfeição e a buscar outras formas de conseguir o que deseja, preservando a sua autoconfiança.
Dentro da disciplina positiva, é importante que os adultos pratiquem e ensinem a criança a:
• Reconhecer – “Eu cometi um erro”
• Reconciliar – “Eu peço desculpas pelo erro”
• Resolver – “ Vamos trabalhar para uma opção juntos”
Índice de Conteúdos
A disciplina positiva e Jane Nelsen
Nos anos 1980, Lynn Lott e Jane Nelsen começaram a treinar estagiários para ensinar experimentalmente a disciplina positiva e escreveu (com a ajuda de seus estagiários) o primeiro Manual de Ensino para Pais. Jane foi diretora de Projeto ACCEPT (conceitos adlerianos de aconselhamento para incentivar pais e professores), um projeto financiado pelo governo federal que recebeu status exemplar enquanto estava na fase de desenvolvimento.
Em 1982, o livro Disciplina Positiva foi publicado, e após ele vários outros livros para incluir títulos que abordam diferentes faixas etárias, configurações familiares e situações especiais.
Atualmente, a disciplina positiva é ensinada a escolas, pais e educadores, com ferramentas práticas para ajudar as crianças, efetivamente, em habilidades de vida como respeito, autonomia, autodisciplina, empatia e resolução de problemas.
No Brasil, o livro Disciplina Positiva, de Jane Nelsen, se tornou um manual importante para profissionais que desejam se aprofundar na filosofia.
Além da Dra. Jane Nelsen e de Lynn Lott, outros autores, como Cheryl Erwin, Kate Ortolano, Mary Hughes, Mike Brock, Lisa Larson e outros, seguem a mesma linha e ensinam conceitos importantes para gerar habilidades sociais e da vida de uma maneira profundamente respeitosa e encorajadora para crianças e adultos.
Por que a disciplina positiva é importante?
As crianças precisam, desde o nascimento, se conectar com os outros. Crianças que sentem um senso de conexão com a comunidade, família e escola têm menos probabilidade de se comportar mal. Para ter sucesso, contribuindo com membros da comunidade, as crianças devem aprender as habilidades sociais e de vida, e a disciplina positiva é uma excelente abordagem.
Segundo Jane Nelsen, são 5 os critérios para uma disciplina positiva eficaz:
1) Ajuda as crianças a sentir uma sensação de conexão. (Pertença e significado.)
2) É mutuamente respeitoso e encorajador. (Gentil e firme ao mesmo tempo.)
3) É eficaz a longo prazo. (Considera o que a criança está pensando, sentindo, aprendendo, e decidindo sobre si mesmo e seu mundo – e o que fazer no futuro para sobreviver ou prosperar.)
4) Ensina importantes habilidades sociais e da vida. (Respeito, preocupação com os outros, resolução de problemas e cooperação, bem como as habilidades para contribuir para o lar, a escola ou uma comunidade maior.)
5) Convida as crianças a descobrir o quanto elas são capazes. (Incentiva o uso construtivo de poder pessoal e autonomia.)
A disciplina positiva ensina adultos a empregar bondade e firmeza ao mesmo tempo, e não pode ser confundida com punitiva nem permissiva.
As ferramentas e os conceitos da disciplina positiva incluem:
• Respeito mútuo: Os adultos modelam a firmeza, respeitando a si mesmos, analisando a situação com bondade e respeitando as necessidades da criança.
• Identificar a crença por trás do comportamento: A disciplina positiva reconhece as razões pelas quais as crianças fazem o que fazem e trabalha para mudar essas crenças, em vez de apenas tentar mudar o comportamento.
• Comunicação eficaz e habilidades para resolver problemas.
• Disciplina que ensina (e não é permissiva nem punitiva).
• Focar em soluções em vez de punição.
• Incentivo (em vez de elogios): O incentivo percebe esforço e melhoria, não apenas o sucesso, e cria autoestima a longo prazo e fortalecimento da autoconfiança.
Disciplina positiva em sala de aula
Criar um ambiente educacional que seja capaz de oferecer condições para o crescimento completo e que favorece o desenvolvimento de habilidades de vida necessárias para se tornarem seres contribuintes e saudáveis na sociedade é a proposta da disciplina positiva nas escolas.
Os 5 critérios para a disciplina positiva nas escolas são:
1) Ajudar a criança a se sentir CONECTADA. (Sentir que que ela é aceita em sua família/escola e sentir que é capaz de contribuir.)
2) Encorajar RESPEITO MÚTUO. (Firmeza e gentileza ao mesmo tempo. Os adultos tornam-se o modelo de respeito.)
3) Ser efetiva a LONGO PRAZO. (Considerar o que a criança está pensando, sentindo, aprendendo e decidindo sobre si mesma e sobre seu meio social – e sobre o que fazer no futuro para sobreviver ou para prosperar.)
4) Ensinar HABILIDADES SOCIAIS e HABILIDADES DE VIDA. (Respeito, cuidado com os outros, resolução de problemas e cooperação.)
5) Incentivar a criança a DESCOBRIR SUAS CAPACIDADES. (Encorajar o uso construtivo do seu poder pessoal e desenvolver a sua autonomia.)
Na disciplina positiva, o conflito é visto como um momento oportuno para aprender habilidades sociais e usado para ajudar a criança a desenvolver o autocontrole, a independência, a autonomia e a se responsabilizar pelo seu próprio aprendizado.
Disciplina positiva e o coaching parental
O coaching parental utiliza na sua metodologia conceitos dos idealizadores da disciplina positiva (entre outros). Esses conceitos desenvolvidos por Alfred Adler e Rudolf Dreikurs e que ficaram conhecidos nos livros de disciplina positiva de Jane Nelsen e com a sua aplicação vêm ao encontro do que o método da Parent Coaching Brasil acredita sobre educação parental e compõem a base da estrutura elaborada para o processo de coaching parental.
A essência da disciplina positiva também está enraizada nos pilares da Parent, que também se baseia na comunicação não violenta, na parentalidade consciente e na educação emocional como formas de trazer aos pais mecanismos mais eficientes para educar na sociedade moderna.
A metodologia Parent acredita no amor como a ferramenta mais poderosa e mais transformadora das famílias e como a forma mais pura de fazer com que a criança atinja o seu maior objetivo: se sentir aceita.
E se você pensa que sabe o que é esse amor, te convido agora a rever suas bases. O que descobrimos nas nossas pesquisas é que a grande maioria dos pais não se conecta com o amor da forma certa, e por esse motivo não é de se espantar que mais da metade dos jovens, por exemplo, não se sinta amada pelos pais e vice-versa.
Se fizermos a seguinte pergunta aos pais, “Você ama seu filho?”, a resposta certamente será positiva. Mas, se os pais dizem aos filhos que os amam e esse amor não é percebido por eles, de que adianta?
Humberto Maturana, biólogo e pesquisador, diz que nós, mamíferos, somos originados no amor e dele dependemos até para evoluirmos. Então não me admira estarmos presenciando esses conflitos familiares nessa potência absurda, porque, de verdade, onde o amor não é sentido, não há mais pelo que lutar.
O amor, na sua forma original, é aceitação. E o amor cria vínculos fortes e saudáveis entre os membros da família.
É no resgate da capacidade dos pais de criar vínculos com os filhos que o coaching parental atua com muita excelência. E é aqui que a metodologia Parent e a disciplina positiva se entrelaçam.
Os pais estão sofrendo hoje com excesso de informação e excesso de pressão sobre formas ideais de gerir a sua própria família. E quando a coisa vem de fora para dentro, não tem jeito, é conflito na certa. O coaching parental coloca a família de volta no centro, de volta ao amor natural, tirando o adulto desse modo de piloto automático que é extremamente voltado ao mundo externo, trazendo-os assim para a essência da família.
Nos processos de coaching parental, o profissional ajuda os pais a se reconectarem com o seu centro, que nada mais é do que o que os move enquanto família, o que eles acreditam, os valores que possuem, o legado que pretendem deixar, o espaço que cada membro da família precisa ocupar para se sentir PERTENCENDO.
SENSO DE PERTENÇA E IMPORTÂNCIA são muito fortes também na disciplina positiva.
Outro ponto muito importante é que a metodologia Parent se baseia no método SER (significado, emoções e relacionamentos). Ajudamos famílias a dar mais significado para o que acontece, trabalhando os ciclos familiares e ajudando-os a incluir seus filhos no sistema. E quando os pais incluem os filhos, adquirem o significado de “Eu contribuo significativamente e sou genuinamente necessário”; “Eu sou capaz”.
Essas são percepções muito significativas para a disciplina positiva.
Trabalhamos o E, das emoções. E quando fazemos isso, despertamos as habilidades intrapessoais, que é a capacidade dos pais de perceber suas próprias emoções e depois usar isso para entender as emoções dos filhos.
Trabalhamos o R, de relacionamentos, o qual está diretamente ligado ao desenvolvimento de habilidades interpessoais, que é o relacionar-se com o meio, os amigos, os pais, os filhos e a sociedade.
No livro Disciplina Positiva, Jane Nelson destaca: consciência é a chave da mudança.
O que o coaching parental faz é desenvolver a consciência dos recursos que os pais já têm, e ajudar esses pais a se reconectar não com o amor que manipula, que condiciona, que limita, e sim com o amor que cria vínculos, que é percebido, que nutre a família e que permite, inclusive, que os conflitos sejam geridos e superados.
Hoje o que acontece é que os pais não sabem para onde ir. Não é uma questão de patologia. É uma questão de excesso de informação e de opções. O que nós propomos é que os pais se sintam capazes de escolher, sem culpa ou medo, o que é melhor e o que se conecta com essa fonte de amor e de respeito.
Se você conhece a disciplina positiva, com certeza identificou muitos pontos em comum. Costumamos dizer que pais que passam pelo processo de coaching parental se sentem mais seguros para aplicar a disciplina positiva porque já trabalharam essas bases tão essenciais para a própria disciplina positiva ser eficiente.
Uma mãe ou um pai mais consciente de si e das suas emoções consegue entender melhor os conceitos e se conectar emocionalmente. Muitos conceitos da disciplina positiva serão normais dentro do ambiente familiar, não porque são algo que consta em um livro e que serve como estímulo externo para os pais no desespero de aplicar para ver se o filho muda o comportamento, mas como algo que faz todo sentido porque simplesmente está com certeza mais conectado com o amor e com a evolução saudável.