Coach Carter: O que aprendemos com esse [EXCELENTE] filme!
O filme Coach Carter – Treino para a vida é daqueles que, não importa quanto tempo passe, sempre será atual. Muitas vezes, quando estou precisando de inspiração para continuar exercendo o meu trabalho com adolescentes, é a esse filme que eu recorro para relembrar de que cada adolescente é único, pronto para ter o seu potencial descoberto por um adulto que esteja realmente disposto a olhar para ele.
E é ainda mais bonito quando descobrimos que o filme Coach Carter é baseado em fatos reais. Também tem o fato de ter o ator Samuel L. Jackson (que eu adoro) como o protagonista, Ken Carter, um ex-atleta e aluno do Colégio Richmond que recebe uma proposta para ser técnico de basquete do colégio por quatro meses.
Aviso aos navegantes: Este texto contém alguns spoilers do filme.
A grande questão do filme é o retrato da realidade da periferia norte-americana (que podemos perfeitamente adaptar para a nossa realidade no Brasil), em que o basquete (aqui talvez seja o futebol) é uma das únicas fontes de diversão de jovens em situação de vulnerabilidade.
O fato é que, ao aceitar o desafio de treinar o time de basquete, o treinador Ken Carter tomou para si a responsabilidade de lidar com problemas estruturais e sociais do colégio, como alta evasão, dificuldade em envolver os pais, insubordinação e não comprometimento dos próprios atletas, que muitas vezes preferiam se aventurar pelas ruas da cidade a frequentar treinos e aulas.
Esse é o contexto básico que você precisa entender para que os aprendizados do filme Coach Carter façam sentido e possam servir de inspiração para a sua vida, assim como é para a minha:
Índice de Conteúdos
Olhe sempre o cenário completo segundo o filme Coach Carter
“Esses alunos são alunos-atletas. ‘Alunos’ vêm antes.” A frase dita pelo treinador coach Carter traduz bem o conceito de que, embora tenha sido contratado para ser técnico de basquete, Ken Carter sabia que o estudo é o que traria uma possibilidade real para os jovens terem uma vida mais digna, com a conquista de uma bolsa para a universidade, inclusive, como atletas de basquete.
O treinador Carter tinha a escolha de desempenhar apenas a sua função de tornar o time vencedor no basquete. Mas ele sabia o que viria a seguir: nesses campeonatos, olheiros buscariam talentos para as universidades. Quando o time começasse a ganhar as partidas, os atletas do colégio ficariam em destaque e passariam a receber convites das universidades. No entanto, Ken Carter também sabia das péssimas notas dos alunos e da exigência de uma nota mínima para aprovação nas universidades norte-americanas.
Não é difícil prever o final catastrófico: os alunos seriam convidados pelas universidades, mas veriam seus sonhos ruírem por não possuírem notas com pontuação mínima exigida.
O bom líder, seja ele mãe, pai, cuidador, educador ou treinador, como Ken Carter, percebe que cada passo da jornada de um jovem é apenas uma peça do quebra-cabeças da vida.
Por falar nisso, recentemente fui a um evento em que uma das dinâmicas era tentar montar um quebra-cabeças sem saber qual era a imagem final. Por onde começar? Como separar as peças sem saber de qual figura se tratava?
Na vida real, o quadro final do quebra-cabeça é onde queremos chegar, quais são os nossos sonhos, os nossos objetivos de vida. E as peças do quebra-cabeças são cada ação que tomamos para chegar onde desejamos.
Por mais insano que isso possa parecer, estamos o tempo todo pegando peças de quebra-cabeças que não servem, simplesmente porque não pensamos aonde essa peça vai nos levar. Eu, por exemplo, trabalho com jovens do Ensino Médio e vejo o quanto o vestibular é para eles essa peça solta de quebra-cabeça, em que o objetivo maior é passar na universidade dos sonhos, mesmo que eles não tenham ideia do que isso, na prática, significa.
E você? Quais peças do seu quebra-cabeças está solta?
Se você trabalha com jovens, seria legal levar essa reflexão até eles.
Acredite no potencial
O que os jovens precisam é de alguém que acredite neles. Muitos pais desencorajam os sonhos dos filhos por medo ou porque falharam nos próprios sonhos. O nosso sistema de ensino obriga professores a se ocupar de tarefas repetitivas e burocráticas, quando deveria mesmo é deixá-los mais livres para encorajar essa juventude.
O filme Coach Carter mostra com clareza que o jovem não quer pais ou professores permissivos e que o deixe fazer tudo. Eles querem líderes.
Embora tenha sido avisado pelo técnico anterior e pela diretora sobre a insubordinação, o descaso e o deboche dos alunos, o treinador Carter sempre assumiu uma postura de líder, de confiança e de firmeza. Nunca tratou os jovens como vítimas ou duvidou da capacidade do time de ser bem-sucedido e, embora o começo tenha sido muito turbulento, a postura sempre congruente do técnico fez com que eles confiassem nas suas táticas e orientações.
A liderança firme e consistente transformou um time perdedor em uma equipe de sucesso.
Quando disser, faça
No começo do filme, coach Carter pediu aos alunos que assinassem um contrato. Nele, os jovens se comprometeram com atitudes diárias, entre elas comparecer a todas as aulas e tirar a nota mínima exigida pelas universidades.
No dia a dia, o aluno que chegasse atrasado precisaria pagar com algumas (na verdade muitas) flexões. Alguns atletas o desafiaram e ele foi firme em manter exatamente o acordo estabelecido.
O poder da palavra é indiscutível. Muitos pais ameaçam, mas não cumprem. Dizem não, mas depois cedem. Fazem acordos com os filhos e, quando eles descumprem, relevam.
O bom líder cumpre cada uma de suas promessas, mesmo que isso signifique não ser popular ou querido 100% do tempo.
No livro Os Quatro Compromissos, de Don Miguel Ruiz, um dos compromissos é: Seja impecável com a sua palavra.
Pense antes de prometer algo ao seu filho ou aluno. Não ameace: em vez disso, ofereça escolhas e mostre as consequências de cada uma delas.
No filme, por exemplo, o técnico deu aos alunos uma escolha, ao dizer “Eu me comprometo com vocês que quem ficar e treinar duro vai ser campeão”.
Inúmeras atitudes do técnico Carter ao longo do filme foram questionadas e desafiadas pelos alunos e, mantendo-se firme, o técnico mostrou que era um homem de palavra.
Ao ser fiel com a sua palavra, ganhou o respeito e a admiração dos seus alunos e a retribuição em quadra, na forma de vitórias.
A disciplina não aprisiona você, ela liberta
Muitas pessoas têm uma ideia equivocada sobre disciplina. Ter disciplina não é abrir mão da liberdade, e sim usar melhor a sua energia, o seu tempo e o seu dinheiro para alcançar a vida que deseja.
Ken Carter era extremamente rigoroso com os atletas porque sabia que, naquele momento, ter disciplina os levaria ao próximo nível. Quando assumiu o time, os jovens estavam fora de forma, sem foco e técnica para o jogo. Os treinos com disciplina trouxeram para a equipe a eficiência de que precisavam para ganhar o campeonato.
Não ter um planejamento mínimo, uma rotina para trabalhar nos seus projetos, foco e consistência pode ser o que hoje afasta você dos seus sonhos.
Um alerta importante: a disciplina só é positiva quando você sabe quais peças do quebra-cabeças precisa pegar para chegar onde deseja.
Pare de buscar apenas recompensas imediatas
Em alguns trechos do filme, o técnico demonstra a preocupação com o deslumbramento dos jovens pela vitória, a fama e tudo o que ela proporciona. Claro que, para jovens acostumados a perder, não só no basquete, mas também na vida, alcançar o topo causa certo deslumbramento.
As recompensas imediatas são extremamente atrativas. Ceder a elas é o que faz a grande maioria das pessoas não ter sucesso a longo prazo.
Como líder, Ken Carter tratou de cortar o mal pela raiz, trazendo os jovens à realidade toda vez que algum comportamento desviava o principal motivo de estarem ali.
Como pais, precisamos refletir sobre as recompensas imediatas que damos aos nossos filhos para suprir a nossa própria falta de tempo ou para evitar conflitos. O que estamos ensinando a eles?
E como adultos também precisamos refletir sobre o gerenciamento do nosso pote de recompensas imediatas.
Cuidado com a memória curta
O início do relacionamento entre o coach Carter e os pais dos alunos foi bem conturbado. Muitas objeções, muitas reclamações sobre a postura e o contrato exigido. Conforme as vitórias aconteciam, os pais passaram a apoiar o treinador e viver pela recompensa imediata (fama, filho atleta), esquecendo-se de exercer o papel de fiscalizadores do compromisso assumido.
O treinador, ao perceber que a maioria dos alunos não cumpriu o acordo de tirar boas notas, decide tomar uma atitude drástica: fecha o estádio e cancela os jogos. Nessa parte do filme, os pais exercem o papel de justiceiros, pedindo inclusive a retirada de Ken Carter do time.
A memória curta faz essas coisas! Ao olhar apenas o cenário atual, nos esquecemos muitas vezes de quem nos ajudou a chegar até ali. Os pais esqueceram que, antes de o técnico assumir, o time do colégio perdia quase todas as partidas. Não foi milagre ou golpe de sorte uma equipe passar de “quase nenhuma vitória” para “ganhar o título invicto”, mas os pais, cegos pelo desejo da recompensa imediata, não pensaram nisso.
Ao estarmos no topo, nos esquecemos também de que nos manter nele requer o mesmo empenho e a mesma dedicação. Como os garotos garantiriam a mesma performance, tirando o técnico que os levou até ali?
O fato é que, quando queremos o tempo todo só ganhar, não importando por quais motivos ou de que maneira, as chances de fracasso e o tombo são maiores.
Qual é o seu maior medo?
E, por fim, deixo essa mensagem belíssima do filme:
“O nosso maior medo não é o de ser inadequados. O nosso maior medo é o de ser infinitamente poderosos. É a nossa própria luz, não a nossa escuridão, que nos amedronta. Ser pequeno não engrandece o mundo. Não há nada de transcendente em sermos pequenos, pois assim os outros não se sentirão inseguros ao nosso lado. Todos estamos destinados a brilhar, como as crianças. Não apenas alguns de nós, mas todos. E enquanto irradiamos a nossa admirável luz interior, inconscientemente estamos a permitir aos outros fazer o mesmo. E quando nos libertarmos dos nossos próprios medos, a nossa presença automaticamente libertará os medos dos outros.”
Gostei muito do artigo. É uma reflexão que poucas pessoas tem sobre esses temas:
O ambiente tóxico
A falta de perspectiva
A ausência de compromisso
A indisciplina
O caminho mais curto
A ingratidão
O próprio reflexo
Obrigada por compartilhar.