Estamos em um tempo de buscar novas formas de exercer a maternidade e a paternidade, perdidos entre repetirmos a educação dada pelos nossos pais e criarmos uma nova educação.

A grande dúvida que assola a maioria das famílias é: Que educação é essa, capaz de preservar os aspectos bons das educações anteriores e de criar abordagens mais assertivas e que compreendam os desafios do mundo atual?

Dentro desse desafio, alguns modelos de educação surgem com força total, como a disciplina positiva e a parentalidade consciente.

A parentalidade consciente propõe o relacionamento com as crianças com base no igual valor e no respeito pela integridade.

Isso significa aceitar que as emoções e opiniões da criança têm tanto valor como as do adulto e todos merecem ver a sua integridade física e psicológica respeitada.

Parentalidade consciente

A base da parentalidade consciente é ainda uma polêmica. Muitos pais acreditam que a criança deve ser corrigida e isso passa por dar umas “palmadas” quando necessário para que possam, no futuro, tornarem-se adultos do bem.

“Tapinha é uma coisa, espancar é outra” é a justificativa dos adeptos a esse tipo de correção.

Já a parentalidade consciente defende que bater, ainda que seja uma palmada, atenta contra a dignidade da criança e que a autoridade e as surras devem ser completamente dissociadas. Isso significa que não bater em uma criança não quer dizer que ela possa ter e fazer “tudo o que quer” e nem que deve impedir os pais de dar limites aos filhos ou discipliná-los.

Na parentalidade consciente, o adulto continua sendo o líder da relação, responsável por disciplinar os filhos no verdadeiro sentido da palavra: ensinar tanto competências como a capacidade de enfrentar com resiliência situações difíceis, frustrações e tempestades emocionais.

Como disciplinar os filhos com Parentalidade Consciente.

Nessa abordagem, os pais estimulam e se permitem exercer a autenticidade e a vulnerabilidade, ou seja, aceitam que não são perfeitos e nem possuem todas as respostas e que também não possuem filhos perfeitos. 

Com isso, os pais tomam consciência de que darão o seu melhor e que fatalmente isso passa por falhar às vezes e pedir desculpa sem medo de perder a “autoridade”. A falha é considerada como parte de um processo de aprendizagem familiar  e procurar reparar a relação não os fragiliza, mas empodera.

Na parentalidade consciente, os filhos fazem o que querem?

Esse é um grande equívoco.

Parentalidade consciente NÃO É uma parentalidade permissiva!

A parentalidade consciente estimula a responsabilidade pessoal de todos os membros da família – a responsabilidade que cada um de nós tem pela sua vida, emoções, ações e escolhas. 

Isso significa que a criança deve ser ensinada a fazer escolhas, sempre respeitando a sua idade, e deve aprender por meio do exemplo dos pais o real significado de respeito, valores e educação emocional. 

Os pais, como líderes, buscarão entender o que está por trás do comportamento e não apenas corrigi-lo. O comportamento é encarado como uma forma de a criança comunicar as suas necessidades, sejam elas fisiológicas ou emocionais. 

Nenhuma criança se comporta mal porque quer. O mal comportamento é fruto de emoções que a criança ainda não consegue entender e nem controlar e de necessidades não atendidas que não consegue expressar. Cabe então aos pais assumir o papel de ajudar a criança a traduzir essas emoções e necessidades e ajudá-la a expressá-las de forma melhor.

Algumas perguntas podem ser úteis aos pais:

  • Que necessidades estão por trás desse comportamento? 
  • O que a criança está tentando comunicar? 
  • Qual é a emoção da criança nesse momento?
  • Como posso ajudá-la?

O papel dos pais, enquanto educadores, é ser o detetive que responde à pergunta “por quê?” em vez de focar em “como” corrigir o comportamento.

Pais educadores.

Também é importante ressaltar que satisfazer as necessidades é muito diferente de satisfazer os desejos das crianças, e esta é a confusão mais comum para pais que não se aprofundam no estudo da parentalidade consciente. 

As necessidades devem sempre ser respeitadas, tanto as fisiológicas – como moradia, segurança, alimentação, entre outras – como as emocionais – como significado, pertencimento, amor ou conexão, contribuição, crescimento, entre outros.

Já os desejos não. Ou seja, dizer não ao filho que deseja ter o smartphone de última geração quando não tem maturidade/idade para isso faz parte de uma educação consciente.

Afinal, quais são as premissas da parentalidade consciente?

Intenção

A parentalidade consciente sempre começa com uma intenção. Essa intenção clara estabelece quem queremos ser na relação com os nossos filhos para que eles possam florescer na sua autenticidade e para que os libertemos para não precisarem da nossa aprovação nem corresponder às nossas expectativas.

A intenção foca no processo e não no objetivo. O que isso significa, na prática?

A maioria dos pais traça objetivos para educar os filhos com base nas expectativas que criaram, como: quero que o meu filho tire boas notas, seja educado, seja paciente, não faça birras, seja menos tímido, tenha sucesso na vida, passe em uma boa universidade, tenha um excelente emprego, entre outros. 

Já a parentalidade consciente desenvolve nos pais a busca por respostas para algo mais profundo, como:

  • Que tipo de mãe ou pai quero ser para o meu filho? 
  • De que forma posso contribuir para que o meu filho faça boas escolhas?
  • O que posso fazer para que o meu filho demonstre suas emoções de forma menos agressiva?
  • Como posso descobrir o que está acontecendo?
  • Como posso me aproximar mais do meu filho?
  • Como gostaria que o meu filho me descrevesse quando se tornar adulto? 
  • Que ambiente quero fomentar na minha família?
  • Que valores gostaria de transmitir ao meu filho?
Intenção

As intenções sempre são positivas e alimentadas pela segunda premissa: 

Busca interna

A parentalidade consciente obriga os pais a olhar para as suas próprias questões e feridas; a perceber quais gatilhos os filhos acionam e o real motivo de eles existirem.

Se a intenção é sempre positiva, as ações negativas dos pais com os seus filhos devem ser avaliadas tanto quanto as reações negativas dos filhos com os seus pais. 

Imagine um filho que está fazendo birra e uma mãe que perde o controle e grita com ele para fazer pará-lo. Ambos os comportamentos devem ser analisados porque partem sempre de um processo interno que vem de necessidade não atendida.

O que o filho quer comunicar com a birra? Necessidade de descansar, de dormir, de se sentir acolhido, de um lugar mais calmo, entre outros.

O que a mãe quer comunicar com o grito? Necessidade de descansar, de afeto, de apoio, de acolhimento, entre outros.

Quando há o olhar para o processo interno, quase sempre conseguimos nos conectar com a real intenção da relação e, dessa forma, fazer diferente da próxima vez.

Colaboração (e não obediência)

O verdadeiro foco numa relação consciente é a criação de vínculos entre os pais e seus filhos e não apenas a correção do comportamento. 

O psicólogo Carl Rogers defendia que a qualidade das relações é um fator fundamental para o bem-estar e o desenvolvimento. Rogers olhava para as relações como uma fonte de cura, e é assim que a parentalidade consciente mantém seu foco: no desenvolvimento conjunto entre pais e filhos. 

Para que o desenvolvimento seja conjunto, os pais devem assumir a responsabilidade de curar as suas próprias feridas, entender as próprias emoções e comportamentos e focar na própria transformação, evitando transferir necessidades, frustrações e sonhos para os filhos.

Da mesma forma, os pais criam no ambiente familiar uma atmosfera de colaboração, e não de obediência.

O significado de obediência é:

  1. Cumprimento da vontade alheia.
  2. Submissão.

Na obediência, crianças fazem as coisas por medo de punições ou para obter recompensas. Quando obedecemos, tendemos a não sentir tanta culpa pelos nossos atos, porque a responsabilidade não é de quem fez e sim de quem mandou fazer.

O significado de colaboração é:

  1. Ato ou efeito de colaborar.
  2. Trabalho feito em comum com uma ou mais pessoas; cooperação, ajuda, auxílio.

Na colaboração, os filhos fazem as coisas porque entenderam a importância de agir daquela maneira. Não agem porque um adulto está olhando ou mandando, porque serão castigados ou recompensados e sim porque aprenderam que aquele comportamento é melhor do que o anterior.

Colaboração.

Saber diferenciar obediência de colaboração é um dos avanços mais expressivos que os pais aprendem ao escolher estudar a parentalidade consciente. E isso não quer dizer que não há consequências para comportamentos que queremos desincentivar nas crianças, apenas que pais e filhos, juntos, descobrirão as melhores formas de fazer o que tem de ser feito, simplesmente porque é o melhor a fazer para o bem-estar da família e da comunidade.

Igual valor

Os desejos, as opiniões, as necessidades e as emoções do adulto são respeitadas exatamente da mesma forma que as da criança. Preservar a autoestima da criança e fazê-la se sentir aceita e pertencendo é fundamental para a existência de um relacionamento saudável entre pais e filhos. A integridade física e psicológica da criança deve ser preservada, sempre.

Autenticidade

Os pais devem se permitir, e também aos filhos, honrar e exprimir aquilo que somos em qualquer situação, procurando criar um ambiente de presença, abertura e verdade. 

Autenticidade.

Em uma família saudável há tantos momentos de harmonia quanto momentos de conflitos, e os pais veem ambos os momentos como uma excelente oportunidade para aprender a conhecer um ao outro.

Responsabilidade pessoal

Pais são espelhos e assumem a responsabilidade pela sua vida, ações e escolhas, assim como deixam que os filhos assumam as responsabilidades adequadas à sua idade. 

É muito importante deixar as crianças assumirem as responsabilidades que conseguem assumir, porque assim entenderão mais facilmente o conceito de colaboração. 

Como a parentalidade consciente faz parte do coaching parental?

Parentalidade consciente no Coaching Parental.

No coaching parental, ajudamos os pais a se tornar mais conscientes a respeito dos seus valores e das suas intenções. Sem essa virada de chave, fica praticamente impossível exercer a parentalidade consciente, que parece fácil, mas é extremamente complexa.

E por que é tão difícil para os pais? Porque é novo e não vem da educação que recebemos dos nossos pais. No intuito de exercer uma parentalidade mais amorosa, muitos pais caem no abismo da permissividade, que é contrária aos conceitos que trouxemos neste artigo.

Para achar o caminho do meio, os pais precisam acessar perguntas-chave importantíssimas e na maioria das vezes não conseguem fazer esse processo sozinhos. Por esse motivo, o coaching parental se torna a melhor opção para os profissionais adeptos à parentalidade consciente e que desejam primeiro fazer com que os pais descubram o seu próprio poder.

E se você se interessou pela parentalidade consciente, convido você a ler este artigo sobre disciplina positiva, que vem de uma linha muito parecida.

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