Quando a gente pensa em escuta ativa, logo vem a imagem daquele papo onde você realmente presta atenção, entende sem julgar e responde de forma que a outra pessoa se sinta ouvida. Agora, imagine mergulhar nesse conceito assistindo a Lady Bird, um filme que coloca na tela de forma real e crua os altos e baixos da relação entre uma mãe e sua filha adolescente. 

A partir dessa história, fica claro o quanto a escuta ativa pode transformar o diálogo com os jovens — e o quanto a falta dela pode gerar conflitos desnecessários.

Os conflitos entre Lady Bird e sua mãe: onde a escuta ativa falhou

Lady Bird não é só uma história sobre a adolescência, mas sobre o choque de gerações que acontece quando a comunicação falha. A mãe de Lady Bird, apesar de amar sua filha profundamente, vive presa a uma visão rígida do que é certo para ela — um caminho cheio de regras e expectativas. E Lady Bird, querendo sua autonomia e voz, sente-se sufocada.

Nesse embate, a escuta ativa fica claramente ausente. Cada uma fala, mas parece que nenhuma escuta. O resultado? Mal-entendidos, ressentimentos e aquela distância que cresce sem que ambas percebam. O filme mostra como, muitas vezes, as mães querem ser protetoras, mas acabam não criando espaço para os adolescentes expressarem suas verdadeiras emoções e necessidades.

Isso não é um problema só da ficção: quantas famílias se veem nesse mesmo cenário? E é justamente aí que a escuta ativa pode ser a ponte que faltava para reaproximar gerações.

Por que é tão difícil ouvir na adolescência?

Ouvir um adolescente não é tarefa simples. Pais e responsáveis, muitas vezes, carregam preocupações legítimas: medo das escolhas, ansiedade sobre o futuro, desejo de se proteger… E quando a insegurança dos pais se mistura com a busca por autonomia dos filhos, o conflito ganha força.

No filme, a mãe de Lady Bird tenta oferecer segurança, mas seu tom crítico — cheio de exigências — acaba afastando. Isso não é maldade, é medo disfarçado de rigidez. E aqui surge a grande lição: escutar não é abrir mão dos limites, mas sim criar espaço para que o jovem se sinta parte das decisões sobre sua própria vida.

3 técnicas de escuta ativa para melhorar diálogos com adolescentes

Se o filme Lady Bird nos ensina algo, é que ouvir de verdade não é só ficar em silêncio enquanto o outro fala — é um exercício que envolve atenção, empatia e prática. Para quem quer transformar o jeito de conversar com adolescentes, aqui vão três técnicas essenciais:

  1. Refletir o que foi dito: Ao invés de só ouvir, repita com suas próprias palavras o que o adolescente falou. Isso mostra que você está tentando entender e ajuda a esclarecer qualquer mal-entendido.
  2. Evitar julgamentos e interrupções: A adolescência é um turbilhão de emoções e descobertas. Evite interromper, corrigir ou julgar. Deixe o jovem se expressar livremente, sem medo de ser criticado.
  3. Fazer perguntas abertas: Perguntas que estimulam a reflexão e o diálogo, como “Como você se sentiu com isso?” ou “O que você acha que poderia ajudar?”, ajudam o adolescente a explorar suas emoções e pensamentos, promovendo uma conversa mais profunda.

Cuidado: o que não é escuta ativa!

Vale o alerta: achar que está ouvindo não significa que você esteja realmente praticando a escuta ativa. Alguns erros comuns incluem:

  • Ouvir só esperando a vez de responder.
  • Dar sermões disfarçados de conselhos.
  • Interromper para “corrigir” ou trazer exemplos próprios.
  • Fingir que escuta enquanto pensa na resposta perfeita.

No filme, vemos isso várias vezes, quando a mãe responde automaticamente às falas de Lady Bird, sem realmente acolher o que ela está tentando expressar. Isso gera frustração, desconexão e, claro, aquele famoso clima de tensão que muitas famílias conhecem bem.

Como profissionais podem usar o filme em workshops de educação parental

Profissionais que trabalham com famílias e adolescentes têm no Lady Bird um material rico para ilustrar o que a escuta ativa pode — ou não — fazer. Workshops podem usar cenas específicas para:

  • Discutir com os pais os erros comuns na comunicação com os filhos.
  • Demonstrar o impacto emocional da falta de escuta genuína.
  • Exercitar técnicas práticas de escuta ativa por meio de dinâmicas inspiradas no filme.

Assim, fica mais fácil para pais e educadores visualizarem a teoria em ação e refletirem sobre seus próprios padrões de comunicação. Além disso, o filme abre espaço para abordar a importância da auto expressão dos adolescentes, o que ajuda a construir relações mais saudáveis e respeitosas.

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A adolescência é uma fase de descobertas e a escuta ativa é o primeiro passo para entender o universo adolescente. | Foto: Freepik.

Escuta ativa e auto expressão: o que “Lady Bird” revela sobre identidade

Lady Bird quer ser ouvida, mas não apenas em palavras — ela quer que suas escolhas, desejos e identidade sejam reconhecidos. Isso é uma lição fundamental para quem trabalha com adolescentes: escutar vai além do que é dito, envolve captar o que está por trás das palavras, o que às vezes é difícil de verbalizar.

A escuta ativa permite que o adolescente se sinta seguro para explorar e afirmar quem é, sem medo de rejeição ou controle. Lady Bird mostra que o conflito não está só nas diferenças, mas na falta de espaço para essa autoexpressão. Quando conseguimos ouvir com empatia, abrimos caminho para que a identidade do jovem floresça, e para que a relação com os adultos se fortaleça.

O silêncio que também comunica

Nem todo diálogo precisa ser preenchido por palavras. O silêncio — quando vem carregado de presença e acolhimento — também é uma forma poderosa de comunicação. Às vezes, apenas estar ali, sem julgar, já é suficiente para que o adolescente se sinta visto.

No filme, há momentos em que o silêncio pesa, justamente porque poderia ser usado como espaço de escuta, mas vira desconexão. Isso nos faz refletir: o silêncio pode ser tanto ausência quanto presença — tudo depende da intenção.

Quando ouvir cura: os benefícios da escuta ativa na relação com adolescentes

Praticar escuta ativa não é sobre ser o pai ou mãe perfeito. É sobre estar disponível, emocionalmente presente e disposto a construir uma ponte em vez de um muro. E os benefícios dessa prática são enormes:

  • Aumento da confiança e da segurança emocional do adolescente.
  • Redução de conflitos e melhora na resolução de problemas familiares.
  • Fortalecimento da autoestima dos jovens, que se sentem validados e respeitados.
  • Desenvolvimento de empatia mútua — os adolescentes também passam a ouvir mais.
  • Melhora no ambiente familiar, nos laços afetivos e até no desempenho escolar e social.

Se na trama de Lady Bird houvesse mais espaço para essa escuta, talvez as duas — mãe e filha — pudessem ter vivenciado essa fase de forma mais leve, amorosa e conectada.

A escuta ativa, quando praticada com atenção e respeito, pode mudar o jogo na relação com os adolescentes. O filme Lady Bird é um lembrete poderoso de que ouvir de verdade faz toda a diferença. Se você quer aprofundar essa prática e transformar a forma como se conecta com os jovens, nós da Parent Coaching estamos aqui para ajudar você nessa jornada.